quinta-feira, novembro 26, 2009

Kósta pintou o corpo de Kriska

Pois. O Chico falou do amarelo de Budapeste. Eu vos falo, sereníssimo(a) leitor(a), de um Danúbio cor de prata. Pareceram-me prateados os textos do ghost-writer. Fantasmas escrevem para si mesmos como a lua que brilha sob a distância devida ao Sol. Como se falará húngaro em 2012? (Roland Emmerich que se f..). No mínimo a cor do rio mudará mais uma vez desde outros Rios. Kósta e Kriska. Eles como sélene e hélios, respectivamente, rirão das páginas em branco de Walter Carvalho. Há mesmo muitas lacunas de sensações nas seqüencias do filme. São espaços invisíveis por trás do esteticismo de imagens "fofas"... Imagens assim são como algodão dôce: come-se mas não se farta. O açúcar. Melhor o melaço-azedo das pitangas pingando gotas de sangue. (Não se preocupe, não haverá alusão aos vampiros de Forks, nem aos da Transilvania..). Mas como se falará mesmo húngaro em 2012? Zsoze Kósta pintou o corpo de Kriska. Eis porque Budapeste mudou de cor. Dê-lhe a devida cor de um anônimo. Mais uma vez surge-me como argêntea sua imagem. Pobre Kósta. Nem lhe interessaria as sete profecias maias. "Maia", ou "ilusão", é o mundo. Ele leu nos olhos de Kriska a lua imensa ocultada na Gênesis judaica. Restou a óbvia maçã e a serpente esquisita na queda da alma. O homem-Kósta e a consorte-Kriska uniram-se em cordões de prata. Seus corpos inscreveram-se, ou deveriam ter se inscrito nas palavras que Chico recomendou: absoluto anonimato. E como eles falarão húngaro em 2012? Já respondo. Comerão do mundo outras línguas. Outras línguas são: incerteza e amor; amor e incerteza. Nestas duas ordens. É certo que o amor é provado no corpo. Mas o corpo não experimenta tudo que do amor é provado.

sexta-feira, setembro 18, 2009

Irineu piscou o olho!

Uma quinta-feira. Poderia ter ficado em casa assistindo ao jornal ou lendo os livros que comprara durante a tarde. Mas não deixaria de testemunhar a importância daquela noite. Quase uma hora e meia de atraso. O público esperava pelo livro do Irineu.. O Cariri e seu Instituto Cultural esperavam o lançamento fac-símile de uma publicação esgotada. A espera era justa. Francamente, não me queixei da espera, porque todos aguardavam benevolentes o afamado livro, incluindo personalidades intelectuais e políticas, e também figurões passantes, e voyeurs movidos pela divulgada raridade da obra. Senti-me como um paciente bibliófilo na expectativa serena de registrar, ao chegar em minha reservada biblioteca, o "ex libris" na folha de rosto da publicação -- o que seria um ilustre em minha estante! O convidado principal mostrou-se, em sua humildade política, um editor sensível. Cumpriu bem o seu papel, destinando aos anfitriões uma tribuna de agradecimentos. O dr. Lúcio teve, pareceu-me naquela sua fala, o detalhismo de um Gutemberg, embora tenha esquecido de apresentar a nova edição da obra do doutor cratense. O olho de Irineu piscou no quadro, dizendo: "Estou aqui!". Mas ouvi outros sobrenomes: menos os Nogueiras e Pinheiros. E naquele instante das repetidas nominatas entrei em suspensão, ou melhor, abstraí longe dalí. Perguntava-me, "onde estará o cacique Araripe; ele mesmo existiu? Trombas d'água na chapada, ouvi. Índios fujões escondendo-se nas matas, e o frei Carlos Ferrara ensinando o ABC àqueles "bárbaros" catequizados". Caí da nuvem dessas imagens aos primeiros aplausos. Eram sacolas de livros presenteadas aos representantes convidados, embora não vi livro nenhum, nem sequer a capa! A Universidade não se sentou à mesa com o Alcântara... Mais uma vez perguntei-me, que fazia naquele augusto sodalício? Um confrade que não teria o prazer de degustar O Cariri, de Pinheiro. Uma longa espera desde 1930. Invejei naquele momento o José Lins do Rêgo, pois ansiava devorar com o mesmo folego as páginas do filho de D. Irineida.

sexta-feira, maio 22, 2009

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

O "absoluto realismo"


Há cobranças válidas. Uma delas justifica-se por nascer com o espírito da arte. As demais são adjacentes à alma posto que há um abismo entre a realidade e a fantasia -- estas duas faces da vida. Validada a cobrança da fantasia, da imaginação, da arte da memória em criar representações, é-nos pesarosa a realidade. Dito de outro modo: quais cobranças são necessárias à realidade se à imaginação somos absolutamente livres? E ser livre é não envelhecer os sonhos.

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Dois seres que se beijam pela primeira vez. Naquele filme antigo visto há tempos; naquele dejà vu; naquele espaço expandido do quadro, propício a múltiplos sentidos; naquele firmamento da fotografia, alterado. Eles se beijam sem cobrar das cores e dos cortes do tempo e do espaço a realidade.
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Cá pelos Trópicos só há a monotonia de uma estação. Verão seco. Verão úmido. Verão chuvoso. Verão sempre. Mas o Sol nada cobra daqueles que sonham com o Inverno. As outras estações ainda inexploradas -- sem flores, sem folhas caducando nas ruas -- são contigentes na alma; alma a mudar sempre de estação.

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Só para dizer que os filmes são cobranças válidas. Há verdades neles. São verdades exploradas na imaginação. Imaginar é ver com os olhos da alma a realidade desejada. O absurdo humano é ser cobrado por quase nada; pelo que a vida soberbamente nos aplaca da paixão. Paixão é uma fada que pergunta: que deseja?

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"O 'absoluto realismo' do cinema é uma não realizada, logo potencial, magia" [S. Brakhage]