“des-olhado” - texto sobre a exposição
escala tonal, é ir do mais ao menos,
trabalhar com gradações, com limites nem não simples de enxergar. A cidade, os
lugares, objetos e pessoas que surgem no ensaio de Vieira estão nesses
interstícios, onde os tons por vezes se misturam, se alargam – e, para não
perder o hábito da dúvida, a cidade cabe nessa escala? Parece-me que a ideia de
urbe é tencionada, ganha outros ares, até mesmo cria outras escalas em seus
trabalhos de viragem de cor – porque cidade é expansão.
o ato de alargar pode se confundir
com o de inscrever: com a fixação-mistura de cores, com a sobreposição de
imagens – ele constrói sua cidade –, com personagens grafados nas tramas do
papel, como pichos pela cidade em seu espaço de trân(e)sito – visual. Por sua
vez, a cidade vista em sobreposições é gravada em uma superfície que não
comporta dicotomias, nem segregações. Porque cidade é diminuir distâncias.
em variadas gradações tonais a cidade
se desmonumentaliza e torna-se da ordem do percebido, do que se mostra como
detalhe...“percebo esse trabalho como uma forma de grafar imagens...é como se
tivesse nos muros da cidade”, assim me relatou o fotógrafo que, ao não levantar
esses muros, ora enxerga por cima-além deles, ora os tira e põe horizontes –
porque cidade é ver longe.
assim, ele propôs outra medida para a
cidade: dada pela dimensão da experiência, de ser um viajante e andarilho em seu
próprio lugar. Interferindo nos escritos de Calvino com a liberdade de quem tem
o livro aberto em cima da mesa, diria das imagens aqui ao redor que quem
comanda a narração é o olhar.
assim acho que Glauco se des-ver