Passeava pelo “L’Amore in Cittá” quando a reencontrei. Era tarde chuvosa por todo o campo, cujos capins soluçavam após pegadas de pássaros saltando vôo. Os amantes novamente frente a frente em “Un Agenzia Matrimoniale”. Uma sala de indecisos e buscadores de sonhos. Imagens de esperança em terra movediça. Imagens só lidas em romances. Um neo-realismo à flor da pele. Fellini não via filmes, porém capturara o sentido de nosso vôo incompleto. Pobres passos perdidos na licantropia de uma fera sem bela; de uma ferida sempre a querer sarar com sais de cogumelos raríssimos. Os capins bordejavam a vida entre nossos dedos se nutrindo de desejos e de temores e de luas.
Sabia que podias me curar da inquietude dos dias, da arte que me escapulia dos sentidos para arremessar em tuas mãos os limites da noite. A lunação, imprevista, interrompia o percurso de mais um dia – daquelas horas congeladas no acostamento da estrada.
Escorregamos em palavras com as mãos perdidas no ar. Rimos ou talvez gritamos desassossegados. Aguardamos o vento balançar mais uma vez os capins ondulantes. E uma casa perdida no ponto de fuga da perspectiva acariciava a distância que se resvalava no destino.
Não soubemos ser feitos de sonhos. Numa realidade esquisita os sonhos são sempre começos absolutos. Nossas mãos, relativas com o ar, outra vez gravitaram como ditirambo nem alegre nem triste, sem corifeu e sem fauno. Olhos percorrendo o prado, assim ficamos até aquela noite cair de vez na cidade.
Impressões sobre "L'Amore in città (1953) (segment 'Agenzia matrimoniale, Un' - de Federico Fellini)"
5 comentários:
Grande Glauco,
obrigado pelo comentário no meu blog. Você ferrenho divulgador e defensor da cultura nas suas diferentes formas, parabéns! Quanto ao texto, não percamos a capacidade de sonhar, nunca!
Abraço, Dimas.
(apaguei meu meu comentário anterior sem querer e fico com preguiça de reeditá-lo...)
Bom, muito bonito o texto sobre "O Amor na Cidade" e a Agência Matrimonial..
Fiz um curso com você quando cursava Letras na Urca. Desde a adolescência sou um apaixonado pelo cinema. Parabéns pelo blogue e por levar o cinema do cariri para o mundo.
Velho Glauco diga para o mundo que no Cariri tambem se faz filme, Wendell Borges disse que o trombóne é você...
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