domingo, março 18, 2007

A NECESSIDADE DE SE REINVENTAR



O segundo filme de Karim Aïnouz, O Céu de Suely (2006), é uma apologia ao naturalismo. Conta a história de Hermila (Hermila Guedes) que volta de São Paulo e reencontra sua família. No meio do filme, a personagem Hermila passa a autodenominar-se de Suely, alcunha-anonimato do prêmio concedido àquele que ganhar sua rifa. Originalmente o filme deveria chamar-se “Rifa-me”, mas o diretor optou pelo título traduzido ao inglês. Mais que um enredo linear, a história e as vivências provocadas pelas seqüências do texto fílmico levam o espectador a experimentar a bagunça interior dos personagens, com misturas de tons, de inadequações e de texturas naturalistas contempladas nos planos, tudo isto recheado de lacônicos diálogos. O cenário é a cidade de Iguatu, uma cidade de 92 mil habitantes, localizada no centro-sul do Ceará, que fica a 380 km de Fortaleza e 650 km de Recife, embora possa ser percebida como qualquer cidade do interior do Sertão. Para alguns O Céu de Suely pode traduzir “a necessidade que temos de nos reinventar”, segundo Walter Salles, produtor do filme. Podemos enxergar essa auto-reinvenção no sentimento migratório vivido pela personagem. Não a de uma migração teleológica, de partir e permanecer no destino escolhido, mas de viver a eterna busca de um lugar, de um lugar mais longe possível, ou seja, uma migração cíclica, que tenta resolver essa condição de insatisfação de que nunca encontramos o lugar da felicidade ou do “paraíso”. Este talvez seja o céu de Suely. Qual é o seu céu, leitor?

2 comentários:

Amanda Teixeira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Amanda Teixeira disse...

"Toda grande distância pode ser celeste", diz meu querido Guimarães Rosa.

Mas também diz que "o grande movimento é a volta".

"e se ela um dia despencar do céu?"

Suely talvez possa perceber, um dia, que abandonou o próprio paraíso.
Ou não. Quem é que sabe?