quarta-feira, novembro 28, 2007

História do Cinema Mundial


Michelangelo Antonioni [1912-2007]

Uma dica aos interessados na Sétima Arte. Estaremos realizando um minicurso sobre história do cinema mundial, nos dias 4, 5, 6 e 7 de dezembro, no Centro Cultural BNB, em Sousa-PB. Abordaremos os principais períodos da historiografia, desde o primeiro cinema (1895-1915), passando pelas vanguardas dos anos 1920 (expressionismo alemão, impressionismo francês, montagem soviética, surrealismo), seguindo pela gramática clássica do cinema griffitiano (americano), chegando no cinema moderno (neo-realismo italiano, nouvelle vague e cinema novo brasileiro), até a discussão de algumas vertentes contemporâneas. Tudo isto acompanhado de muitos trechos de filmes que exibiremos, incluindo as primeiras imagens dos irmãos Lumière e de Georges Méliès, além de material complementar de leitura (textos). A inscrição é gratuita.

Mais informações: CENTRO CULTURAL BANCO DO NORDESTE - SOUSA - Rua Cel. José Gomes de Sá, 07 - Centro Sousa-PB / Fone: (83) 3522-2980 (De terça à sábado, no horário de 13:00 às 21:00)

quarta-feira, setembro 26, 2007

Vittorio Di Maio

Em breve, estaremos divulgando, de forma mais aprofundada, sob os auspícios do Instituto Cultural do Cariri - ICC, a merecida memória do pioneiro na exibição de filmes no interior do Ceará. Trata-se de uma das figuras mais interessantes da história do cinema no Brasil, Vittorio Di Maio. Basta dizer que seu empreendedorismo e amor à Sétima Arte, desde os primórdios do audiovisual em solo brasileiro o fez abrir inúmeras salas de exibição de Petrópolis, no Rio de Janeiro, passando por São Paulo, a outros estados como o Rio Grande do Sul, Bahia e Ceará, terra que aportou para fixar residência e onde findou seus dias.

Di Maio é natural de Nápoles, Itália, nascido no ano de 1852, vindo a falecer em Fortaleza no ano de 1826. Não existem dados muito precisos sobre sua vinda ao Brasil, embora seja hoje reconhecido como o realizador das primeiras imagens produzidas no país, ou vistas, e principalmente como primeiro exibidor em solo nacional. É tido como fato inconteste, entre os críticos e historiadores, que o italiano tenha sido o pioneiro na exibição de filmes do Brasil com o seu omniógrapho (ou o cinematógrapho de Lumière - há controvérsias), instalado a 8 de julho de 1896, na rua do Ouvidor nº 57, no Rio de Janeiro.

O fato mais curioso a ser registrado sobre o incansável Di Maio é o de ter criado, precisamente no dia 3 de junho de 1911, na cidade de Crato, no Cariri, o primeiro cinema do interior do Ceará, intitulado Cine Paraíso. É preciso esclarecer que anterior à referida data, ocorrera também em Crato a presença de alguns exibidores ambulantes utilizando-se do Bioscópio e da Lanterna mágica, aparelhos que funcionavam a partir de discos e placas de vidro com gravações de imagens. Tais equipamentos são anteriores ao cinematógrapho que, diferentemente, foi a grande revolução na captura e projeção de imagens a partir da película (filme) perfurada. Di Maio, entretanto, conforme as últimas pesquisas, foi o introdutor do cinematógrapho no Brasil.

Em sua coletânea de crônicas intitulada "História do futebol no Crato versus cabra preta", Florival Matos nos informa que Vittorio Di Maio abriu o Cine Paraíso no prédio adquirido onde tempos atrás funcionava a casa de negócios do coronel Juvenal de Alcântara Pedrosa (na praça da Sé - esquina defronte ao atual Museu Municipal), tendo servido por muitas anos como sala de projeção. Segundo o autor, "inaugurou o cinema Paraíso o filme Borboletas Douradas. Um dos assistentes contou-me que as borboletas apareciam voando, e, quando pousavam, invés de borboletas eram mulheres..."

domingo, março 18, 2007

A NECESSIDADE DE SE REINVENTAR



O segundo filme de Karim Aïnouz, O Céu de Suely (2006), é uma apologia ao naturalismo. Conta a história de Hermila (Hermila Guedes) que volta de São Paulo e reencontra sua família. No meio do filme, a personagem Hermila passa a autodenominar-se de Suely, alcunha-anonimato do prêmio concedido àquele que ganhar sua rifa. Originalmente o filme deveria chamar-se “Rifa-me”, mas o diretor optou pelo título traduzido ao inglês. Mais que um enredo linear, a história e as vivências provocadas pelas seqüências do texto fílmico levam o espectador a experimentar a bagunça interior dos personagens, com misturas de tons, de inadequações e de texturas naturalistas contempladas nos planos, tudo isto recheado de lacônicos diálogos. O cenário é a cidade de Iguatu, uma cidade de 92 mil habitantes, localizada no centro-sul do Ceará, que fica a 380 km de Fortaleza e 650 km de Recife, embora possa ser percebida como qualquer cidade do interior do Sertão. Para alguns O Céu de Suely pode traduzir “a necessidade que temos de nos reinventar”, segundo Walter Salles, produtor do filme. Podemos enxergar essa auto-reinvenção no sentimento migratório vivido pela personagem. Não a de uma migração teleológica, de partir e permanecer no destino escolhido, mas de viver a eterna busca de um lugar, de um lugar mais longe possível, ou seja, uma migração cíclica, que tenta resolver essa condição de insatisfação de que nunca encontramos o lugar da felicidade ou do “paraíso”. Este talvez seja o céu de Suely. Qual é o seu céu, leitor?

domingo, fevereiro 18, 2007

Parece o Oscar!

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas é a organização por trás do famoso prêmio "Oscar". Criada em 1927, hoje agrega cerca de 6.300 profissionais do cinema. Não é à toa que os Estados Unidos têm dado o exemplo de um bom negócio. Apesar da distinta Academia não ter fins lucrativos, por ironia é a maior incentivadora de megaproduções. Uma verdadeira indústria é movida pela corrida ao Oscar. Foi esta a opção do cinema americano desde seus primórdios, unir diversão e lucro. Há muita polêmica em torno da qualidade artística das obras do cinema hollywoodiano comparada às de outras produções, sobretudo européias, somadas à renovação de cinematografias nacionais, com destaque para a China, Argentina, Brasil, Irã e India, desde os anos 1990.

Há um consenso entre os críticos de que a linguagem cinematográfica fora inventada pelos americanos, através da obra de D. W. Griffith. Ele ficou na história como o "Pai da Gramática Cinematográfica". Entretanto, o tema é polêmico, havendo interpretações avançadas a respeito das origens do cinema. São verdadeiros estudos "arqueológicos" que testemunham a presença de elementos da arte cinematográfica mesmo antes dos famosos pioneiros franceses Irmãos Lumière e Georges Méliès.

Controvérsias à parte, todos os anos somos de alguma forma influenciados pela mídia televisiva em função da noite do Oscar. E ninguém escuta falar muito de outras premiações, tais como Leão de Ouro (Festival de Veneza), Urso de Ouro (Festival de Berlim), Kikito (Festival de Gramado) e Palma de Ouro (Festival de Cannes), entre outros. Isto deve-se em parte à divulgação arrojada da indústria de cinema americana. Não por menos, o próximo 25 de fevereiro já está bem divulgado. A noite promete, como sempre, surpresas e "pastéis"! Como avaliar os critérios de escolha das modalidades vencedoras? Coisa difícil. A cada ano, obviamente, o Oscar privilegia filmes americanos, vinculados à velha fórmula de sempre, a do enredo, ou à moda vigente.

Entre os mais cotados na 79ª edição do Oscar, indicados para melhor filme e melhor diretor, destacam-se Os Infiltrados (de Martin Scorcese) e Babel (de Alejandro Iñarrito). Na lista de melhor filme estrangeiro, surpreendeu Volver de Pedro Almodóvar ficar de fora. O diretor mexicano Iñarrito é um dos novos talentos no cenário hollywoodiano. Babel recebeu sete indicações, além de dar a duas atrizes então desconhecidas (a mexicana Adriana Barraza e a jovem japonesa Rinko Kikuchi) a oportunidade de concorrer na categoria de melhor atriz coadjuvante.

Mas, afinal, mesmo que você não seja um legítimo apreciador da festa do Oscar, vale a pena se divertir com o show de glamour e vaidades. Haja córnea para tanto brilho! E saber que tudo começou com uma divertida observação... Depois de projetada a estatueta como a figura de um cavaleiro de pé sobre um rolo de filme com uma espada entre as mãos, conta-se que foi batizada por Margaret Herrick, uma das diretoras executivas da Academia, quando dissera uma vez que a estatueta parecia com seu tio Oscar. Parece o Oscar!

sábado, janeiro 27, 2007

Salve Borges!

Olá amigos... pensando bem, nesta última temporada de férias 2006/2007, nunca vi tamanha pobreza de programação em nossas salas de cinema, pelo menos em Fortaleza e Cariri. É desestimulante depois de ver outras maravilhas mundo afora e voltar aqui pra nossa "líquida" cultura de cinema.

Líquida porque não há um background consistente em torno da cinefilia ou produção de audiovisual. O famoso sociólogo Zygmunt Bauman já nos avisa em sua Modernidade Líquida sobre o reinado das relações solúveis e inconsistentes dos últimos anos. Uma transição de películas sem açúcar, com gosto travoso de triviliadade é o que nos oferecem.

Mas claro que continuam acontecendo boas temporadas de cinema em muitas praças. Apenas não consigui assistir a um filme sequer em nossa Capital e nem muito menos em nossas salas de exibição caririanas. Pobreza de programação é alcunha educada . No bom "cearês", é de lascar!

A única ressalva fora brilhar os olhos com uma mostra sobre o diretor Kristof Kieslowsky. Em pleno verão portueño, lá no Centro Cultural Borges, na bela Galerias Pacífico, uma riqueza de programação para sorte de um turista desanimado. Nada menos que o decálogo completo do diretor polonês. Até então, só havia assistido a Não Amarás e Não Matarás. Os únicos títulos que ele adaptou ao cinema, sendo todos os dez filmes originais realizados para a TV polonesa nas últimas décadas do milênio passado.

Kieslowsky soube nos deixar um grande aprendizado em seu cinema. Como ele mesmo assinalava, "a liberdade é um conceito contraditório com a natureza humana". Até mesmo gostaria de ver sua arte na interpretação do Amor Líquido discutido por Bauman.

Mas, acabo de ler os jornais, a agenda cultural. Lamentavelmente, está difícil ir ao cinema hoje. Parece que os blockbusters aumentam nas vésperas do insubstancial Oscar!

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Mito & Realidade [1]




Cá de volta depois de um interlúdio de mil projetos no(do) mundo!

Combinar pesquisa com obrigações-da-vida é um confronto entre sonho e realidade. Não que a leitura e a investigação "científica" (não tolero muito o termo, prefereria pesquisa "humanista") soe ser um sonho somente, mas que os dias cronometrados do "obrigatório" acabam enfadando a possibilidade de viver-de-sonhos. Mas não de qualquer sonho.

Veja só. Assistir a um filme é também sonhar. As imagens nos tocam em outras dimensões da alma. Já foi dito pelo brilhante Arlindo Machado que o cinema é uma vontade inesgotável de se manipular o imaginário. Sonhar nos aproxima de outras realidades. Uma realidade que seja mais preciosa para nós. A preciosidade de qualquer instante é poder experimentar aquilo que imaginamos ver, o que não necessariamente deva ser a realidade material.

Mas não foi assim que surgiu a sétima arte? Uns querendo imitar a realidade e outros querendo recriá-la nos desvãos dos sonhos? Seria um mito a realidade ou o contrário? Que os Frères Lumière ou o maravilhoso George Méliès sejam normalmente interpretados na historiografia do cinema como pioneiros de duas escolas antagônicas, não creio que eles tenham deixado de comungar do desejo imperativo de manipular o universo da imaginação. Se se diz que Méliès é o fantástico, o sonho, e os Lumière a imitação do real, que pobreza insistir nisto. A "Chegada do trem à estação" influenciou tanto a imaginação do espectador dos anos derradeiros dos novecentos quanto "A Viagem à lua" estimulou a criar o mito do domínio espacial. Há uma parte de mito na realidade e há na realidade pedaços de sonhos.

Dizia o poeta Pessoa que "o mito é o nada que é tudo"; ou que o "mito são rasgos da verdade". Depende só de como nos inclinamos a buscar essa "verdade". Muito próxima ou muito distante a verdade nunca parece ser só uma exclusividade de sonhos ou de realidades. O que é mito e o que é real é uma disposição da alma de ver o mundo com os olhos da imaginação. Não é menos previsível que ao se receber a carta de um velho amigo ou de alguém que se ame, a caligrafia seja a mensageira de visões fantásticas e realmente humanas. A alma está ali indelével, impregnada em cada linha, completada nas entrelinhas da intuição. O filme é uma carta manuscrita, que toda vez ao ser lida nos projeta em mito-realidade.