sábado, abril 03, 2010

Enquanto o Sol não vem

Retorno ao Imago Mundi com novos ares. Mudando residência para o Rio de Janeiro, é hora de aproveitar as excelências de uma estimulante agenda cultural. Para inaugurar a peregrinação nas inúmeras redes de multiplex da capital fluminense, escolhi o CineMark - Downtown, na Barra. Para minha surpresa estava em exibição um filme da cineasta francesa Agnès Jaoui, Enquanto o Sol não vem, de 2008 (Parlez-moi de la pluie). De Jaoui já havia me sensibilizado em sua obra anterior premiada em Cannes, Questão de Imagem, que será oportuno comentarmos noutro momento. Mas agora devo aproveitar a degustação recente das imagens de Enquanto o Sol não vem. Farei uma sinopse seguida de impressões sobre o filme.

* * *
Agathe Villanova, uma feminista recém-ingressa na política, retorna à casa de infância no sul da França, ajudando a selecionar com sua irmã Florence os pertences de sua mãe, que morreu há um ano. Nesta casa vivem Florence, seu marido e seus filhos. Mas também Mimouna governanta, que Villanova trouxe de volta com eles da Argélia, na época da independência. O filho de Mimouna, Karim e seu amigo Michel Ronsard decidem fazer um documentário sobre Agathe Villanova, como parte de uma coletânea documental de mulheres que venceram na vida. É o mês de agosto. É cinzento, chove. Não é normal. Mas nada vai acontecer normalmente! Todos esperarão a chuva passar, considerando o retorno da primavera na vida de cada personagem.

A diretora, roteirista e atriz Jaoui, que sempre divide o roteiro com seu marido Bacri, longe das grandes produções que engole orçamentos e pipoca, seus filmes fazem parte de uma perspectiva humanista. Eles falam sobre nós, ocidentais, e mais particularmente do comportamento dos franceses aos problemas políticos e pós-colonização que vivem. A chuva não é uma exceção à regra. Depressão, outro tema recorrente em seus filmes, é interpretada por Jean-Pierre Bacri, personificando um jornalista desempregado, provocando-nos o filme a examinar o que somos e o que pretendemos ser. Karim interpreta alguém que foi capaz de livrar-se das divisões de classe na sociedade. Filho de uma empregada assediada por seu marido, ele quer ir mais longe, e não apenas correr riscos. Ele quer fazer um filme sobre o que vê como a síntese da hipocrisia social. Da mesma forma, Agathe Villanova interpretada por Agnes Jaoui, finalmente percebe que seus desejos foram motivados por uma espécie de carreirismo e que, finalmente, há mais vida para além do que ela esperava. Deixa-se descobrir um pouco conservadora, apesar de feminista, percebendo que o amor é mais forte do que qualquer coisa. O filme nos traz os pensamentos que vão além do filme. Não apressando o espectador, Jaoui leva sua câmera mais próxima aos seres humanos na sua mais frágil e mais preciosa intimidade ante as verdades que devem ser enfrentadas. E quanto mais nós rimos do começo ao fim eles continuam a falar sobre a chuva! Uma pedra preciosa. Uma esperança de renovação.

Nenhum comentário: