segunda-feira, dezembro 26, 2016

S.O.S. SANEAMENTO BÁSICO EM JUAZEIRO DO NORTE [I]


Os esgotos a céu aberto em Juazeiro do Norte, lamentavelmente, já estão naturalizados na paisagem da cidade. E neste período em que se avizinham as chuvas, o cenário tende a piorar. Não somente pelas doenças decorrentes da estação chuvosa por vir, das águas que passam a se acumular em inúmeras valas e centenas de buracos espalhados nas principais vias da malha urbana, mas também pela dificuldade de mobilidade no espaço público, decorrente desse transtorno ambiental.

Saneamento é algo essencial para a vida nas cidades. É algo realmente “básico”. Não dá para ficar pulando de poças e tapando o nariz aos miasmas insuportáveis das lamas e mini lagos de esgotos superficiais. Não se admite nos tempos atuais o descaso das gestões municipais de infraestrutura urbana. É um ato perverso contra o cidadão fechar os olhos para tal situação. Não estamos mais no tempo da história quando a humanidade desconhecia sobre as condições mínimas de salubridade nas urbes. Com as devidas ressalvas de controle e disciplinamento social, desde o final do século XIX, entretanto, as políticas de higienização das grandes cidades tinham como medida prioritária a construção das redes de esgotos sobre a cidade antiga.

Juazeiro encontra-se doente há muitas décadas. Uma doença ambiental crônica. E, incrivelmente, apesar das reclamações constantes da população, não há determinação política para sanar de vez esta calamidade. Toda cidade cresce, porém nem toda cidade deve expandir-se carecendo de itens básicos para um meio de vida digno aos cidadãos. Somente uma iniciativa conjunta: população cobrando de um lado e gestão municipal cumprindo seu papel do outro, teremos uma reviravolta na saúde ambiental da cidade.

O problema aumenta a cada ano. Sabe-se de indícios de contaminação da água e do solo pela falta de ligações à rede coletora de esgotos. O município de Juazeiro possui uma cobertura de esgotamento sanitário em torno de 60%, porém quase a metade deste percentual representa ausência de ligações prediais à rede. A população deve também fazer sua parte. Responsabilização civil e fiscalização mais efetiva devem ser realizadas desde que o poder público se responsabilize também, adotando medidas eficazes para resolver o problema. Somente os bairros Pio XII, Pirajá, Romeirão, Centro, João Cabral, Salesianos e Vila Fátima apresentam rede interligada. Já foi divulgado na mídia: o Município está em 6º lugar no País nos indicadores negativos de saneamento.

O documentário, Bem vindo a Juazeiro do Norte (2015), de Ythallo Rodrigues, selecionado no último Cine Ceará (2016) chega em boa hora pelo estranhamento de uma cidade (re)vivida; funciona também como instrumento político para o direito à cidade. O cineasta denuncia de forma provocativa os desafios de transitar nas ruas, e ao mesmo tempo evoca o sentido de um flanar a ser recuperado a partir de um fluxo de consciência prenhe de possíveis imaginários. Envolvido por imagens poéticas que ainda resistem aos espaços de uma urbe rendida ao capital simbólico, o vídeo nos convida a experimentar uma Juazeiro que deseja alcançar o negócio do turismo a todo custo. Uma imagem da cidade é negociada como estatuto do progresso enquanto outra imagem denuncia o tempo-espaço de pertença do cidadão ameaçado pelos obstáculos depois de uma chuva caudalosa. A cidade se desmonta depois das águas.

Fica esta dica de filme! Noutra oportunidade continuaremos a clamar urgência para o saneamento básico em Juazeiro.



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