quinta-feira, janeiro 04, 2007

Mito & Realidade [1]




Cá de volta depois de um interlúdio de mil projetos no(do) mundo!

Combinar pesquisa com obrigações-da-vida é um confronto entre sonho e realidade. Não que a leitura e a investigação "científica" (não tolero muito o termo, prefereria pesquisa "humanista") soe ser um sonho somente, mas que os dias cronometrados do "obrigatório" acabam enfadando a possibilidade de viver-de-sonhos. Mas não de qualquer sonho.

Veja só. Assistir a um filme é também sonhar. As imagens nos tocam em outras dimensões da alma. Já foi dito pelo brilhante Arlindo Machado que o cinema é uma vontade inesgotável de se manipular o imaginário. Sonhar nos aproxima de outras realidades. Uma realidade que seja mais preciosa para nós. A preciosidade de qualquer instante é poder experimentar aquilo que imaginamos ver, o que não necessariamente deva ser a realidade material.

Mas não foi assim que surgiu a sétima arte? Uns querendo imitar a realidade e outros querendo recriá-la nos desvãos dos sonhos? Seria um mito a realidade ou o contrário? Que os Frères Lumière ou o maravilhoso George Méliès sejam normalmente interpretados na historiografia do cinema como pioneiros de duas escolas antagônicas, não creio que eles tenham deixado de comungar do desejo imperativo de manipular o universo da imaginação. Se se diz que Méliès é o fantástico, o sonho, e os Lumière a imitação do real, que pobreza insistir nisto. A "Chegada do trem à estação" influenciou tanto a imaginação do espectador dos anos derradeiros dos novecentos quanto "A Viagem à lua" estimulou a criar o mito do domínio espacial. Há uma parte de mito na realidade e há na realidade pedaços de sonhos.

Dizia o poeta Pessoa que "o mito é o nada que é tudo"; ou que o "mito são rasgos da verdade". Depende só de como nos inclinamos a buscar essa "verdade". Muito próxima ou muito distante a verdade nunca parece ser só uma exclusividade de sonhos ou de realidades. O que é mito e o que é real é uma disposição da alma de ver o mundo com os olhos da imaginação. Não é menos previsível que ao se receber a carta de um velho amigo ou de alguém que se ame, a caligrafia seja a mensageira de visões fantásticas e realmente humanas. A alma está ali indelével, impregnada em cada linha, completada nas entrelinhas da intuição. O filme é uma carta manuscrita, que toda vez ao ser lida nos projeta em mito-realidade.

2 comentários:

Amanda Teixeira disse...

Isso tudo me lembra Guimarães Rosa:
"Meu duvidar é da realidade sensível, aparente - talvez só um escamoteio das percepções"

E uma estudiosa de literatura e antropologia do imaginário, que diz: "a arte é o espaço privilegiado do exercício de uma liberdade, e as formas que tomam corpo pertencem ao tesouro subjetivo do criador, sem negar que elas carregam em si algo que remete a uma região que escapa a seu controle."

Ou, ainda, uma citação de Tolstói: "Se descreves o mundo tal qual é, não haverá em tuas palavras senão muitas mentiras e nenhuma verdade"

Então, eu me pergunto: o que é que estou fazendo num curso de História? rs.

Dihelson Mendonça disse...

Olhaí, Irmão. Beleza o teu Blog. É pura Arte e Sensibilidade. Estou vendo que irei postar aqui muitas vezes. E muito obrigado pela sua ilustre visita ao BLOG DO CRATO.

Existe um endereço fácil para aquele blog, que é:

www.blogdocrato.com

Um grande abraço, meu irmão.
Take care!

Dihelson Mendonça