terça-feira, janeiro 29, 2008

Cultura & Cinema - coluna 29.01.08



Budapeste na telona

É intrigante conhecer tão bem um lugar sem nunca tê-lo percorrido. "Quando se abriu um buraco nas nuvens, me pareceu que sobrevoávamos Budapeste, cortada por um rio. O Danúbio, pensei, era o Danúbio mas não era azul, era amarelo, a cidade toda era amarela, os telhados, o asfalto, os parques, engraçado isso, uma cidade amarela, eu pensava que Budapeste fosse cinzenta, mas Budapeste era amarela." Dessa forma Chico Buarque vai nos apresentando Budapeste numa reinvenção entre a ficção fantástica e a realista. Lembra-nos a mesma façanha empregada por José de Alencar em seu O Gaúcho, romance que escrevera sem nunca ter ido aos pampas no Sul do país. A prosa de Chico é um convite às percepções que, afora a erudição deliciosamente presente nas entrelinhas do texto, arvoram-se em imagens econômicas mas evocativas de um realismo originalíssimo. Depois do interregno de cinco anos, a obra literária vai se tornando filme sob a batuta de Walter Carvalho como seu primeiro longa-solo de ficção. A estréia de Budapeste deverá ser no final do ano ou início de 2009. O roteiro é assinado por Rita Buzzar, também produtora, que contou com a colaboração de Chico. As filmagens em húngaro estão marcadas para fevereiro, com a participação de atores europeus (Andras Balint, Hungria; Antonie Karmeling, Holanda; e Ivo Canelas, Portugal). Leonardo Medeiros, o protagonista, tem aprimorado os estudos da língua magiar há três meses. Uma curiosidade, é que a capital húngara foi formada pela fusão de três cidades às margens do Danúbio: Buda, Ôbuda e Peste, no que resultou em Budapeste. Quem sabe num futuro próprio, depois da fusão de nossas três principais cidades caririenses, teremos o filme Crajubar!

Um comentário:

Amanda Teixeira disse...

Será que o filme "Crajubar" também vai se basear num livro escrito por alguém que nunca tenha visitado o Cariri? rs

Ah, Budapeste! Aí está um filme que quero ver na telona! É o melhor livro do Chico que já li.

"então renunciei de vez à língua magiar, deixei cair o rosto, os ombros, os braços, e ela se lançou sobre mim, se grudou em mim e me fincou os dedos, como se pretendesse enterrá-los nas minhas costas, porque eu era um homem cruel, ou formidável, ou pavoroso, porque eu estava dissipando os instantes mais formidáveis de sua vida."

Ah, o Chico...